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Carlos Augusto S. da Fonseca

Gênesis 3:15 - Parte 6: Os Filhos de Deus e a Igreja de Cristo

Atualizado: 6 de mai.

Em Gênesis 3:15 os filhos de Deus de todos os tempos estão unidos espiritualmente à Rocha, que é Cristo, e ao seu sacrifício na cruz. Por meio dessa união espiritual, o Senhor edifica a sua igreja, revelada e revestida de poder nos dias atuais.




I - Introdução


¹⁵ E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. Gênesis 3:15.


O sentido da semente da mulher na profecia acima é Cristo, o único que pode derrotar Satanás, a serpente – para mais detalhes, leia também o post Gênesis 3:15 – Parte 3: A Semente da Mulher.

Entretanto, o versículo também menciona a semente da serpente, que são os homens que fazem a vontade do maligno. Desde que o texto fala de inimizade entre a semente da serpente e a semente da mulher, esta última também deve significar homens e mulheres, por paralelismo de ideias.


De fato, a semente da mulher nesse versículo tem dois significados: um é o Senhor Jesus Cristo e o outro são os filhos de Deus, bem como a mulher também tem mais de um sentido no texto (para mais detalhes, leia também o post Gênesis 3:15 – Parte 5: A Mulher e Sua Semente). Esses elementos estão misturados e se confundem no texto de Gênesis 3:15; a razão para isso é a natureza da igreja de Cristo – o corpo de Cristo –, que será vista com detalhes mais adiante.


Portanto, em um segundo sentido, a semente da mulher são os filhos de Deus. A semente da serpente são os que vivem no pecado e fazem a vontade do diabo. Veja isso nos versículos abaixo.


Quem é a semente da mulher


Mateus 13:38 – o campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno.


Apocalipse 12:17 – e o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao resto da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo.


Quem é a semente da serpente


Mateus 13:38 – o campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno.


João 8:44 – vós tendes por pai o diabo, e quereis satisfazer os desejos do vosso pai; ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.


1 João 3:8 – quem comete pecado é do diabo, porque o diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo.


1 João 3:10 – nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo. Qualquer que não pratica a justiça e não ama o seu irmão não é de Deus.


Os filhos do diabo – a semente da serpente


Como visto nos versículos apresentados acima (Mateus 18:88; João 8:44; 1 João 3:8 e 1 João 3:10), a semente da serpente são os filhos do diabo, assim chamados porque fazem a vontade do diabo.

São como ervas daninhas lançadas pelo maligno para tentar destruir a plantação de Deus (a igreja e povo de Deus, a semente santa). Estão no mundo para serem usados como instrumento do maligno, perseguir os justos e disseminar a Palavra de Deus falsificada com heresias.


Neste post, o foco será apenas os filhos de Deus e a natureza da igreja espiritual de Jesus Cristo.



II - A Natureza da Igreja


A natureza da igreja de Cristo é revelada em dois de seus aspectos nas palavras que Jesus disse a Pedro:


Em João 1:42:

⁴² E levou-o a Jesus. E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro). João 1:42


Em Mateus 16:17,18:

¹⁷ E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus.

¹⁸ Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; Mateus 16:17,18.


(1) Em João 17:17. As palavras do Senhor Jesus revelaram que a sua igreja não é baseada em coisas terrenas e em aparências humanas, mas ela é espiritual e é formada por pessoas a quem o Pai revelou o seu Filho – João 1:17; 6:44,45.


(2) Em João 17:18. A igreja de Cristo é semelhante a um edifício cujo fundamento é Cristo, a Rocha, com paredes cujas pedras são homens e mulheres. Eles são simbolizados por pedra porque, ao se ligarem a Cristo, receberam a mesma natureza espiritual da Rocha, que é Jesus Cristo, e formam um só corpo com ele – João 17:20-26; 1 Coríntios 12:12,13,27; 1 Pedro 2:4-6.


No chamado de Simão, Jesus lhe deu o nome de Cefas, que quer dizer Pedro. O propósito de Jesus era que Pedro sempre soubesse que somente em Cristo e nas suas palavras ele poderia ter a vida eterna. Também para que soubesse que ele precisava estar unido a Cristo para que pudesse vencer o mundo e o pecado, pois sozinho ele não seria capaz de vencer as suas fraquezas e as tentações por que passaria – João 6:66-69; Lucas 22:31-34; João 19:10,11; Lucas 22:59-62; João 21:15-19.

Esse ensino dado a Pedro cabe para todos os que querem a vida eterna; por isso o chamado de Pedro é um modelo e uma figura do chamado do Pai e da edificação da igreja de Cristo.


III – Igreja, Corpo de Cristo


Por ser a igreja espiritual de Cristo o corpo de Cristo (Colossenses 1:18) e, os santos, os membros desse corpo (1 Coríntios 12:12; Romanos 12:5), todos eles estão presentes e conectados a Cristo em Gênesis 3:15.

Por isso a profecia junta no mesmo texto o Salvador (a cabeça da igreja), a igreja (que é o corpo) e os filhos de Deus (os membros do corpo), representados respectivamente pela semente da mulher no fim do versículo (parte 3), pela mulher no início do versículo (parte 1) e pela semente da mulher no meio do versículo (parte 2).


(1) E porei inimizade entre ti e a mulher (a igreja de Jesus, o seu corpo),

(2) e entre a tua semente e a sua semente (os filhos de Deus);

(3) esta (a semente da mulher, Jesus Cristo) te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.


Entretanto, essa união se dá por dependência, isto é, o corpo de Cristo e seus membros não são protagonistas, pois Cristo é a semente prometida como Salvador. Assim, a igreja e seus membros estão unidos humilde e espiritualmente a Cristo como resultado da fé individual e da obra de Cristo na cruz do Calvário, o que os torna participantes dos sofrimentos e da glória de Cristo.


Um com Cristo

A união espiritual com Cristo se dá de forma individual e coletiva ao mesmo tempo, como será visto adiante.


Uniões Individuais com Cristo

Em Mateus 16:18, como visto acima, Jesus fala por metáfora da sua igreja como um edifício construído com pedras que são provenientes da mesma Rocha, a qual também é o seu fundamento. Essa figura fala primeiramente da união individual de cada crente com Cristo, ligação essa que é espiritual, realizada na revelação do Filho feita pelo Pai (Mateus 16:17 e João 6:44,45). Jesus disse em João 6:44,45:


44 Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.

45 Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim.

João 6:44,45.


Para ouvir o Pai e dele aprender, é necessário ouvir com interesse a Palavra de Deus que é pregada, a qual exorta o ouvinte ao reconhecimento dos seus pecados, ao arrependimento e à fé por meio do Evangelho de Jesus Cristo. Por isso, nem todos chegam ao arrependimento, pois não têm interesse e ouvem de má vontade, por preferirem viver no pecado, como está escrito em Isaías e relembrado pelo Senhor Jesus:


14 E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis.

15 Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure. Mateus 13:14,15


Contudo, aos que ouvem de boa vontade, o Pai os atrai para si por meio da fé em seu Filho Jesus Cristo.


9 Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

11 Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado;

12 Porque àquele que tem, se dará, e terá em abundância; mas àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.

16 Mas, bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. Mateus 13:9,11,12,16.


Conforme os versículos acima, aquele que ouve e tem interesse, o próprio Pai o atrai; ao receber a Palavra, lhe será acrescentado mais e mais, pois a quem tem, lhe será dado. Dessa maneira, o ensino do Pai vai sendo acrescentado dia-a-dia aos seus filhos à medida que o buscam em oração e em obediência à sua Palavra.


União com Cristo e com os Irmãos em Cristo

Como visto acima, a figura das pedras provenientes da Rocha fala das uniões individuais com Cristo (1 Pedro 4:4). Uma segunda figura ocorre na colocação dessas mesmas pedras para a formação do edifício (1 Pedro 4:5). Ela mostra que os crentes não estão unidos apenas individualmente com Cristo,  mas também estão unidos entre si para formar a igreja de Jesus Cristo – "sobre esta pedra edificarei a minha igreja".


Essa união entre Cristo e os crentes não é estática, pois produz edificação (edificarei a minha igreja). É uma união viva e orgânica (João 15:4,5,7,8) realizada por meio do Espírito Santo de Deus (Efésios 2:18; 4:4), onde os crentes estão humildemente unidos em amor fraternal e cada um contribui com os seus dons para a edificação espiritual dos seus irmãos (1 Pedro 4:8-11; Efésios 4:15,16). Por conta dessa união viva e interdependente, todos eles formam um corpo com Cristo (Romanos 12:5), que é representado pela mulher no início do versículo (isto é, de Gênesis 3:15). 


União com Cristo no seu Sacrifício na Cruz


A união com Cristo também transparece em Gênesis 3:15 com relação ao seu sacrifício na cruz. Como já visto acima, o sacrifício de Jesus está profetizado na parte (3) daquele versículo. A consolidação das três partes do texto na mesma profecia, conforme apresentado no início, ligam a igreja e seus filhos (partes 1 e 2 do versículo) com o sacrifício do Salvador (parte 3).


De fato, todos os que estão unidos a Cristo na igreja também se comunicam com o seu sacrifício pela fé. Essa comunhão foi apresentada pelo Senhor no diálogo com os judeus registrado em João capítulo 6, conforme apresentado a seguir.


Já no início do texto do Evangelho de João capítulo 6, o evangelista ressalta que estava próxima a festa da Páscoa (João 6:4), enquanto relata que uma multidão estava chegando. Lá estava o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (João 1:29), que os recebeu com íntima compaixão (Mateus 14:14).

Após o milagre da multiplicação dos pães e peixes na região deserta e o seu retorno a Cafarnaum, Jesus fala por metáfora sobre a vida eterna e sobre o seu sacrifício, quando diz que (1) é o pão da vida descido do céu que alimenta o mundo e que (2) a sua carne é verdadeira comida e o seu sangue é verdadeira bebida.


A referência para essas metáforas é a festa da Páscoa e o sacrifício do cordeiro pascal, o qual, na verdade, é uma figura do sacrifício de Jesus em favor de toda a humanidade (1 Coríntios 5:7; Mateus 26:1,2). Todo aquele que quiser fazer parte do reino de Deus, não o fará por meio da violência e de meios terrenos, como pensaram em fazer aqueles que queriam tornar Jesus o rei por meio de rebelião contra as autoridades romanas (João 6:14,15).


Naquele diálogo com os judeus, Jesus mostrou que o seu reino é celestial e espiritual, pois ele é o Pão que dá a vida eterna aos que o recebem (João 6:51). Também ficou implícito que ele não veio, naquele tempo, assumir um reino terreno, mas sim trazer o reino espiritual dos céus, que está presente na Terra entre os que se unem ao Pai por meio do Filho (Lucas 17:20,21; João 18:36).


Identificação e comunhão com o sacrifício de Cristo

O Senhor deixou o ensino de que veio morrer em favor dos pecadores, como um Cordeiro sem manchas, isto é, sem pecado (1 Pedro 1:18,19; Hebreus 9:28). O ensino dado em João 6 é o de que é preciso ter comunhão e identificação com o sacrifício de Jesus Cristo na cruz por meio da fé, o que é representado na metáfora pelo ato de comer a carne do Cordeiro (Êxodo 12:3-11; João 6:54,55).


É importante ressaltar o fato de Jesus ter incluído o seu sangue como bebida na comunhão do seu sacrifício (João 6:53-55), pois aos judeus era proibido beber o sangue dos animais sacrificados (Deuteronômio 12:23,27). Isso ajuda a entender que os sacrifícios de animais, embora apresentados como ofertas pelo pecado, não eliminavam a culpa nem produziam vida. O sangue era a vida do animal apenas, e não transmitia vida aos ofertantes ; Hebreus 9:9; 10:1-4,11).

Entretanto, o sacrifício de Jesus produz vida e livramento da culpa (Hebreus 9:14; Gálatas 2:20; 1 João 5:11). A vida de Jesus é transmitida aos que nele creem, por isso a sua vida, representada na metáfora pelo seu sangue derramado na cruz, é bebida para os que se comunicam com o seu sacrifício.


A Ceia do Senhor nos anuncia o que foi dito acima. Quando participamos da Ceia do Senhor na igreja, trazemos à memória a sua morte. O pão que comemos declara que todos fazemos parte do corpo de Cristo (1 Coríntios 10:16,17); por conseguinte, participamos dos benefícios que ele nos deu pela sua morte expiatória (Colossenses 3:3,4). Da mesma forma, ao participarmos do cálice, nos lembramos de que o seu sangue nos deu vida por meio da aliança com Deus (Mateus 26:28), aliança essa na qual devemos permanecer até que o Senhor, que ressuscitou ao terceiro dia, volte para nos levar para o seu reino de glória (1 Coríntios 11:23-26; Hebreus 3:14), e então estaremos para sempre com ele (João 14:1-3; 1 Tessalonicenses 4:16,17) .


IV - A Promessa é para toda a Humanidade


Por fim, é importante compreender que, quando se fala da igreja e da comunhão com o sacrifício de Jesus, não se fala apenas da igreja após o Calvário, mas sim de todos os que morreram na fé e na esperança do Salvador, pois a promessa foi feita aos antigos no Éden e vale para toda a humanidade: perdão para todos os que creem, conforme 1 João 2:1,2:

Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.

2 E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo. 1 João 2:1,2.


Embora a eficácia do sacrifício de Cristo atinja a todos a partir do tempo de Adão, como visto acima, o plano esteve encoberto em parte até o momento da realização daquele sacrifício. Após revelado o mistério de Cristo, entende-se que todos farão parte da igreja no dia da ressurreição dos justos (Romanos 16:25,26; Efésios 4:4-6).


V - Conclusão


Por tudo que foi analisado acima, conclui-se, que o Salvador prometido, a igreja e todos os que temem a Deus estão juntamente representados em Gênesis 3:15:

  • Todo o povo de Deus desde Adão até Cristo (todos os que temeram a Deus, além dos pertencentes ao povo de Israel que guardaram a aliança com Deus) e a igreja edificada a partir do Senhor Jesus, todos eles estão figurados pela mulher na primeira parte do versículo.

  • Os salvos e o próprio Salvador, o Senhor Jesus Cristo, estão figurados ao mesmo tempo como a semente da mulher na segunda parte do versículo, de modo a indicar que tipo de salvação era prometida: uma vida transformada e unida a Deus e ao seu Filho.

  • O Senhor Jesus, o Salvador prometido, está figurado na terceira parte do versículo como a semente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente.



Observação: Gênesis 3:15 também menciona a inimizade entre os personagens da profecia. O motivo, o propósito e a natureza dessa inimizade serão tratados no próximo post.


REFERÊNCIAS

Bíblia em Português versão Almeida Corrigida Fiel. Bíblia On Line, 2024. Disponível em <https://www.bibliaonline.com.br/acf>. Acesso em 05/04/2024.


 
Este estudo é feito em oito partes (clique nos links abaixo para acessar os demais capítulos)






Gênesis 3:15 - Parte 6: Os Filhos de Deus e a Igreja de Cristo

Gênesis 3:15 - Parte 7: As Inimizades como Confronto Espiritual (em elaboração)

Gênesis 3:15 - Parte 8: Resumo e Conclusão (em elaboração)

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